terça-feira, 8 de novembro de 2011

ÚLTIMA PARADA 174


pub dia 26/10/2011 por Thalita Uba - uba_thali@yahoo.com

Candidato brasileiro à nominação do Oscar chega às telas hoje

Cansativo. É a primeira palavra que me vem à cabeça quando penso em Última parada 174, o filme brasileiro escolhido para concorrer à nominação do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. O filme, muito esperado por grande parte do público cinéfilo, não consegue superar as expectativas de quem o assiste e me faz questionar sua escolha para prêmio tão importante.


O filme, baseado no documentário Ônibus 174, de José Padilha, traz uma das histórias mais acompanhadas pela população no ano 2000: o seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro – episódio assistido por milhares de pessoas em tempo real pela televisão.

Bruno Barreto (diretor de O que é isso, companheiro?) retrata toda trajetória de Sandro do Nascimento (interpretado por Michel Gomes), um menino que perdeu a mãe ainda pequeno, morta por ladrões. Embora acolhido pela tia, Sandro foge e passa a viver nas ruas, onde logo se envolve com drogas e conhece sua primeira namorada, Soninha (Gabriela Luiz). É também nas ruas que Sandro ganha o apelido de “Ale”, dada sua semelhança com Alessandro (Marcello Melo Jr.), um garoto da Candelária que fora tirado ainda bebê dos braços da mãe Marisa (Cris Vianna) pelo traficante Meleca (Rafael Logan), que o criou como se fosse seu filho. Em determinado momento do filme, as histórias de Sandro e Ale se cruzam e passam, de certa forma, a ser interdependentes. Marisa, que procurava seu filho desde a morte de Meleca, acaba encontrando Sandro e pensa que ele é seu filho. Após muitos conflitos e crimes, a história acaba com o trágico desfecho acompanhado pelos brasileiros em 12 de junho de 2000 – Sandro, após ter seqüestrado um ônibus no Rio de Janeiro, é morto pela polícia.

O filme se utiliza da famosa fórmula “‘preto-pobre-favelado-violento’ mais emoção”, que parece, infelizmente, ainda imperar no cinema brasileiro. É, sim, um filme bastante impressionante, muito bem produzido, com uma bela direção de arte e um excelente uso dos planos de câmera (com um belo abuso de closes e planos detalhe). A atuação também não deixa a desejar (apesar de, na minha singela opinião, não chegar a ser excepcional) e a fotografia agrada.



Contudo, não sei se é por estar cansada da “fórmula” ou por realmente não ter sido surpreendida em momento algum pelo filme, não creio que Última parada 174 mereça a indicação que lhe foi conferida. É, como eu disse, um filme cansativo; algumas cenas se demoram mais do que o necessário (especialmente a cena do seqüestro do ônibus) e roteiro por vezes segue alguns caminhos um tanto estranhos. Além disso, a sensação de “‘Pô’, mais um filme desses?” é inevitável. A “fórmula”, além de batida, já não surpreende mais e chega muitas vezes (como pude comprovar ao conversar com diversos colegas jornalistas, cineastas e intelectuais) a irritar o público, que (ainda) espera que o Brasil consiga vender uma imagem menos suja, baixa e vil que a que insistimos em expor.

Se a “fórmula” conseguirá convencer o júri responsável por escolher os indicados ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira eu não sei. É, naturalmente, possível. Mas até lá, continuo a combatê-la. E pelo que tenho ouvido, sua reputação não anda muito em alta. Um a zero pra mim. Pelo menos por enquanto.

.

Um comentário:

  1. Thalita Uba Says:
    outubro 26th, 2008 at 4:45 pm

    “Hoje” era dia 24, só pra constar!

    ----

    Jackson Sardá Says:
    outubro 29th, 2008 at 5:01 pm

    Ainda não vi nem o filme nem o documentário, mas essa história marcou, lembro de ter acompanhado ao vivo pela TV naquele trágico 12 de junho de 2000… Triste e real história, retrato de um país e de uma cidade sem solução, infelizmente.

    ----

    jornaltiragosto.com » Blog Archive » Oscar 2009 Says:
    janeiro 22nd, 2009 at 12:59 pm

    [...] da fórmula “preto-pobre-favelado-violento” utilizada por Barreto aqui mesmo no TiraGosto (http://www.jornaltiragosto.com/blog/?p=184). Não menos surpreendente é a indicação póstuma de Heath Ledger ao Oscar de Melhor Ator [...]

    ----

    Vanda Moraes Says:
    fevereiro 3rd, 2009 at 4:38 pm

    Eu tenho um pouco de resistência com relação ao trabalho do Barreto, particularmente acho que ele faz filme para ganhar Oscar. Penso que este posicionamento mercadológico por si só já é negativo. Não vi o filme, mas não tenho muitas expectativas e, pelo que li sobre, realmente não tem respaldo para concorrer ao Oscar, infelismente.

    .

    ResponderExcluir