sexta-feira, 18 de novembro de 2011

BOA VIAGEM

pub. dia 21/12/2008 por Thalita Uba  - uba_thali@yahoo.com.br

Recife possui apenas duas praias: Boa Viagem e Pina. Admito que gostei muito de Boa Viagem, a mais famosa, onde me hospedei. Não apenas pela praia de águas límpidas e mornas, mas por todo o bairro (confesso, aliás, que dei uma de mocinha da cidade e fui visitar o Shopping Recife, o maior da cidade, muito bonito e bem organizado), que amenizou a má impressão que tive da cidade depois de ter visitado o centro.

fotografias do blog Acerto de Contas

Acordei às 6h, achando que já tivesse passado das 10h, dada a claridade. “Aqui amanhace lá pelas 4h, se tu quiser ir à praia umas 4h30, 5h, pode ir que já tá cheio de gente”, disse-me o dono do hotel em que estava hospedada. Como não fiquei animada a esperar o dia seguinte, levantar às 4h da manhã e confirmar veracidade da informação, resolvi ir naquele dia mesmo.

Logo ao chegar na beira-mar, veio um vendedor me oferecer coco, cadeira e “água doce pra jogar no corpo”. “Pronto”, pensei. Será Olinda tudo de novo. A bajulação, contudo, parou ali. O moço logo se ocupou de outros turistas que por ali estavam. Aliviada, pisei na areia e a primeira coisa em que reparei foi a placa que avisava para tomar cuidado com os tubarões. “Agora me sinto em Recife”, disse a mim mesma. Lembrei-me de minha mãe e seus conselhos de “não nadar no fundo”. A verdade é que eu não via a hora de me esbaldar naquele mar azul tão convidativo.

Ao iniciar minha caminhada ao longo da orla recifense (Boa Viagem possui 7km de extensão), foi como se minha mente entrasse em um universo paralelo. Desliguei do mundo. Percorri boa parte da praia da Boa Viagem, até quase chegar ao Pina. Em um trecho em que havia poucas pessoas, fiz uma coisa que ninguém deveria fazer (uma das muitas, por sinal): larguei todas as minhas coisas na areia e fui nadar com os tubarões.
A água, além de limpíssima, mal chega a refrescar, de tão quente que é. Ao sair do mar (confesso que por medo de que alguém aproveitasse minha aventura marinha para me levar a bolsa), experimentei uma das melhores sensações de liberdade que já experimentei na vida. A areia fina, o mar azul, o vento forte e até os tubarões, era tudo perfeito.



Foi na volta que me dei conta de que estava tão empolgada quando comecei meu passeio que esqueci de reparar no caminho para voltar (especialmente porque esqueci de ver os nomes das ruas em que tinha que virar pra voltar para o hotel). Por sorte, tenho o privilégio de o lado esquerdo do meu cérebro funcionar bem, de modo que sou boa com direções, mas quando cheguei no ponto em que deveria virar, não consegui. Queria caminhar pra sempre. Continuei andando e, infelizmente, tive uma surpresa um tanto desagradável. A rua de meu hotel dava mais ou menos na metade da Boa Viagem e quando fui caminhar, fui em direção ao Pina. Na volta, quando fui em direção a Piedade (praia do município de Jaboatão dos Guararapes), parecia que estava caminhando em outra praia. Muito lixo, vendedores ambulantes e – o pior de tudo – dezenas de “farofeiros” e outros desocupados. Depois de muitas ofertas de “canga, moça?” e gritinhos de “que beleza, morena” achei melhor voltar. Fiquei realmente triste de ver como um local tão bonito pode, por conta do animal humano, se transformar em um inferno em poucos metros.

Apesar disso, voltei para o hotel depois de três horas de caminhada praticamente incessante com uma sensação ótima. Ao sentar na cama, em meu quarto, beberiquei minha H2OH! e pensei: “À tarde, acho que vou fazer mais uma caminhada”. Antes tivesse me contentado com a boa caminhada da manhã. Lá por 16h (hora em que o sol está se preparando para se pôr e o calor é um pouco menos infernal), decidi andar pelo calçadão até a praça da Boa Viagem, onde há a famosa feirinha da Boa Viagem e a igreja matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, erguida no século XVII. Se disser que não me arrependi, estarei mentindo, O número de farofeiros não apenas dobrou, como tomou conta do calçadão. Eu, com essa pinta de turista do sul (quando não pensam que sou estrangeira), confesso que sofri. Não apenas com as palhaçadas que ouvi (que vinham não somente dos farofeiros, mas também dos vendedores e até de policiais) mas com a quantidade de lixo no chão e o cheiro de urina – quase insuportável em alguns pontos. Trotei até a pracinha (para encontrar metade da tal feira famosa ainda fechada) e, na volta, caminhei pelo outro lado da rua, pela calçada dos grande hotéis e prédios. Atentei, então, para um ponto que não tinha reparado: Boa Viagem, com seus 7km de beleza, praticamente não possui restaurantes e bares à beira-mar. Há apenas prédios e mais prédios. São lindos, é verdade. Mas vejo dois problemas: primeiro, não há sol na praia durante a tarde. Ele é bloqueado por tamanho paredão de cimento. Segundo, aproveitar tanta beleza à tarde e também à noite se limita a um número restrito de pessoas. Só quem mora ou está hospedado em um dos caríssimos hotéis da beira-mar podem desfrutar da beleza da praia, visto que quase não há lugares onde sentar para beber ou petiscar alguma coisa e ninguém é louco (nem mesmo eu) de ir à praia à noite – as manchetes dos jornais locais durante essa semana, inclusive, falavam dos arrastões que estão acontecendo em Recife.

Apesar de tudo, gostei da Boa Viagem. Acho que me conforta pensar que é um local que ainda tem conserto. Basta o ser humano colaborar um pouquinho, pois a natureza inegavelmente fez a sua parte.

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Um comentário:

  1. Franco Says:
    dezembro 31st, 2008 at 2:54 pm

    Puxa Thalita, e quando você vai contar pra gente do seu filme, Absolutamente Anselmo?

    Como surgiu a idéia de fazer um documentário sobre o Anselmo Duarte? Como foi a produção do video? Por quais festivais ele já passou?

    Enfim, conta pra gente, quando sobrar um tempinho aí!

    Abraço e parabéns pelos seus inspiradíssimos relatos de viagem!

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    Gladson Says:
    janeiro 10th, 2009 at 3:54 pm

    gostei da matéria, vai participar do grupo da cooperativa tbm? abs!

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    Thalita Uba Says:
    janeiro 12th, 2009 at 4:42 pm

    Então, ficou ainda faltando o relato sobre Porto de Galinhas e João Pessoa, mas meu computador morreu antes do Natal, daí viajei e só agora pude levar pra assistência. Devo recuperá-lo essa semana!

    Sobre o doc. pretendo falar quando o disponibilizar na internet e na Cartoon, o que deve ocorrer ainda esse mês ou, no mais tardar, em fevereiro!

    Quanto à cooperativa, não estou sabendo de muita coisa, portanto não posso me posicionar!
    Ademais acalmem-se. Em breve volto à ativa =)

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