sexta-feira, 18 de novembro de 2011

AINDA É NECESSÁRIO GOZAR

E a seção de sexo do JTG está volta! Hoje com a inestimável participação do teatrólogo curitibano Ricardo Nolasco que, a partir da obra da escritora Hilda Hilst, lança as seguintes questões: literatura pornô também pode ser considerada “alta literatura”? A arte pornô pode ser uma arte maior?

pub. dia21/01/2009 por  RicardoNolasco - misterwild@gmail.com

Se pudesse seduzir a morte,
lamber-lhe as axilas, os pêlos pretos,
babar no seu umbigo, enturpir-lhe as narinas
de hálitos melosos, e dizer-lhe:
sou eu, gança, sou eu, mariposa,
sou Karl, esse que há de te chupar eternamente
a borboleta se tu lhe permitires
longa vida na olorosa quirica do planeta.

(CARTAS DE UM SEDUTOR. Hilda Hilst.)

Já é hora de mergulhar na literatura pornô de boa qualidade e entendê-la como alta literatura, quando for. Separar corpo de mente não é a melhor saída para ambas as partes. O erotismo é um gênero com as mesmas exigências.

Que a literatura possa nos satisfazer. Que ainda possamos gozar sem ofender a intelectualidade…
“Uma escritora séria” foi por muito a melhor definição para Hilda Hilst. Versando pela dramaturgia, poesia, prosa. Vasculhando nos híbridos literários, desafiando estilos, misturando tudo. Sempre com linguagem indomável, efeitos, flashes, cortes. A musa de Vinicius de Morais e mais meia dúzia de escritores igualmente sérios. Um estilo que lembra James Joyce na estrutura e na técnica, temáticas profundas e existencialistas, escrita certeira e nebulosa. Hilda Hilst era aclamada como o grande talento literário brasileiro, até produzir seus primeiros trabalhos em prosa e versos eróticos.

De imediato odiados pelo leitor, levando quase imediatamente seus livros para a prateleira da pornografia nacional, ao lado de Cassandra Rios. É ali que muitos encontram seus livros, por mais irônico que possa parecer, se assustando com seus conteúdos e desistindo rapidamente de tal literatura enfadonha.
Longe de mim reproduzir o pensamento da maior parte da crítica literária, que luta por resgatar Hilda Hilst do limbo da literatura pornô. Literatura pornográfica sim. Mas tão pornográfica quanto séria. Em “O Caderno Rosa de Lory Lamby”, seu primeiro e mais chocante livro erótico há um estudo complexo da alma humana, do incesto, e do próprio sexo. Há uma forte intertextualidade (aos moldes de Virginia Woolf) com clássicos literários. Critica a banalização da literatura, retrata o ser humano.

Talvez sua maior proeza literária esteja entre seus livros considerados de baixo calão. “Bufólicas”, um livro de poemas onde o pastiche e a paródia são executados com maestria, como indica o título que transforma o poema bucólico parnasiano em um bom exemplar do poema bufo e burlesco. Personagens míticos como duendes, reis e fadas são revistos sob o olhar da perversão e do humor. Como um bom livro de fábulas, em cada poema, são apresentados os personagens, posteriormente o problema, e ainda a resolução do problema. Finalizando sempre com uma “instrutiva” lição de moral.

Em qualquer de seus livros o erotismo sempre é atrelado à violência.

“Só três noites de amor, só três noites de amor”, implorava o pai, sim, o pai, ele nunca fizera uma coisa como essa, sim, era Jaú, interior de São Paulo, um dia qualquer de 1946, sim, a filha deslumbrante, tremendo em seus 16 anos, sim, o pai a confundia com a mãe, a mão dele fechada sobre a dela, sim, o pai a confundia com a mãe, a confundia, sim?…”

(CARTA AO PAI. Hilda Hilst)

Um erotismo que não esteja relacionado simplesmente a situações de perversões bizarras. É um grito de subversão. A descrição, muitas vezes entendida como vulgar, de uma relação que nunca é apenas sexo. É repleta de traumas, medos e motivos. Narrativas de uma mulher (mesmo quando assume alter ego masculino) que se põe acima da categoria de objeto de desejo.

Conteúdos tão subversivos e insultantes ao leitor como a sua escrita.

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Um comentário:

  1. Franco Says:
    janeiro 22nd, 2009 at 11:13 pm

    Thalita: você, como uma mulher de letras, o que acha da literatura pornô ou erótica? Tem alguma coisa nesse gênero que vc considere supimpa?

    Abraço!

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    sabrina Says:
    janeiro 23rd, 2009 at 2:30 pm

    Pornográfia e séria, é isso aí!

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    Franco Says:
    janeiro 24th, 2009 at 11:12 am

    O Luís Henrique Pellanda publicou na Gazeta de hoje um belo material sobre o assunto! Leiam lá:

    http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=850152&tit=Recriacao-do-sexo

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    Ricardo Nolasco Says:
    janeiro 24th, 2009 at 2:57 pm

    Não me parece que o “pole dancing”, ou qualquer outro exemplo de atividade com finalidade erótica que venha a se popularizar, tenha perdido alguma eroticidade.

    O magnífico é o uso da eroticidade para vencer a timidez, fortalecer a saúde e viver melhor.
    Homens, mulheres e crianças em busca da eroticidade (seja rodopiando no mastro gravitacional, ou não) e dos benefícios conseqüentes é esplêndido.

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