sexta-feira, 18 de novembro de 2011

ANO SEMPRE O MESMO

um poema de fernando antônio holanda - fernandoholanda5@hotmail.com

a espera de que o próximo ano trará novidades nos adoece de melancolia, certamente ele se assemelhará a este que termina.

certamente sua singularidade será no insólito, a crueza humana continuará a mesma, pois, não temos estoques de esperança, sobretudo, em momentos tão dramáticos caracterizados pela guerra sem fim na faixa de Gaza.

por isso devemos abrir mão da simetria, desistir das sincronias, rasgar as promessas vãs e rastrear os augúrios celestiais, serenos enfrentando o mal de cada dia sem tentar aplainar o que vem pela frente.

os anos mostram que os ideais humanos de paz se tornam insultos, os arrojos, fadigas.

a roda da vida não recua.

admitir que, indelével, o tempo mastiga todas as esperanças.

por isso decido endemoninhar a rispidez, aterrar a desconsideração, danar o escárnio.

é preciso que a integridade de toda intenção se concretize com deferência.

que a minha franqueza nunca se confunda com insolência.

diante de tantos absurdos preciso obstinar-me no impenitente amor à poesia, enxovalhar-me com cores, degustar a boa musica, embriagar-me com os perfumes da existência dando o salto no escuro, aprender a temperar o insípido, sensibilizar o entorpecido, orquestrar o desconsolado.

decido procurar Deus no rosto sofrido das crianças com pedras da faixa de gaza, no olhar suplicante da criança africana, no olhar amargo do velho latino americano.

o próximo ano vira sem mágica, sem inocência, vira com estrondoso apelo de mudança para que cesse o horror americano no Iraque, a carnificina no Afeganistão, clamando por iniciativas solidárias na obstinação de defender a dignidade dos oprimidos.

o novo ano não pode ser um espantalho.

pub. dia 31-12-2008.

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