sexta-feira, 18 de novembro de 2011

UM DIA DE GARÇOM

Amigo leitor, antes de tudo, preciso dizer que sei o quão sou feio. Sei que não é bonito ser feio, mas dou o tiro com a arma que tenho. Falo isso, sabendo que a “falsa modéstia é o último requinte da vaidade”. E, como sou avesso do avesso de ser vaidoso, vou lhes contar sórdidos detalhes do meu dia de garçom e, por conta disso, também dia de Fábio Junior



pub. dia 24/12/2008 por
Leandro Hammerschmidt

Há duas semanas re$olvi trabalhar de garçom. Quem arrumou o bico foi minha namorada Erika. 90 pilas por noite. Pensei: moleza. Achei que ia só levar umas bebidas pros convidados. Ganhar umas gorjetas. Beber de graça. E pra isso acontecer, só precisava chegar ao lugar (naquele dia Jockey Club) com cabelo arrumado, terno, camisa branca, gravatinha e sapato; tudo isso pra pegar a tal “regra”, ou seja, alguma vaga que sobra quando falta garçom.

Se o amigo leitor se interessa pelo trabalho, adianto que é preciso ter contatos, telefones, pelo menos. Geralmente nas segundas-feiras o maître (o chefe dos garçons) monta a escala de quem vai trabalhar durante a semana. Também é preciso ter um alvará da prefeitura pra trabalhar de garçom, mas isso é bem fácil de tirar numa Rua da Cidadania.

Cheguei ao Jockey por volta das 15 horas de sexta-feira, mais perdido que cego em tiroteiro, cachorro em mudança e mais por fora que teta de véia. Perguntei pelo tal Cândido - pastor e dono do buffet. Me deixaram entrar, dois maitres (um e uma) me receberam e me deram a vaga. A primeira coisa que ele me perguntou era se eu trabalhava como garçom. Como não sei mentir, disse “mais ou menos”. Daí ela me perguntou se sabia servir com bandejas. Disse um firme: sim!

Aquele dia seriam duas festas e eles não podiam escolher muito. Cada maitre tem uns 1000 problemas e cada um com os seus: um me puxava pra baixo e o outro me puxava pra cima. Fiquei na festa do andar de baixo, com a maitre Juceli. Gente-fina.

Pra começar o dia de garçom carreguei umas dez mesas. Mas nisso tenho prática, meu pai é caminhoneiro e volta e meia trabalho de “chapa” descarregando mudanças ou batendo carga. O problema é que neste caso a gente precisava pegar as mesas (mais de 20) e subir dois andares com elas nas costas. Depois de colocadas no lugar e arrumadas, começamos a polir umas (400) taças; depois ajudei a ajeitar os talheres (aqui a Juceli me olhou e perguntou mais uma vez se eu realmente trabalhava como garçom; mas daí já era bem tarde).
Depois disso me assumi e comecei a pedir dicas pra todo mundo e passei a aprender coisas com dois garçons experientes: “pra servir a gente vai pela direita e pra retirar é pela esquerda do cliente”, “os  garfos a gente alinha com as facas da cadeira oposta”. Hã? Ah! entendi. “a bandeja, segure com a palma da mão”. “Tenha sempre abridor, caneta e isqueiro no bolso”. “E nunca, mas nunca mesmo chame um bêbado de bêbado: concorde com ele!”. Na verdade, esta última dica é do Gera, o dono do bar que freqüento às segundas.

A festa de baixo começava às 22 horas; a de cima às 20 horas. Antes disso ainda deu tempo pra lanchar pão com manteiga e coca. Depois fui me arrumar. Quase nunca uso terno, meu pai não usa, não sou estudante de Direito, não trabalho em empresa grande e nem sou crente. Então não tenho muitos motivos pra usar terno, mas naquele dia até gostei de usar.

Começou a festa: correria, Leandro prá lá; Leandro pra cá. Água, whisky, red bull, isqueiro, “ quero isto, quero aquilo, assim, assado, cozido”. Olha, pra trabalhar de garçom é preciso ter muita atenção e boa memória pra lembrar os pedidos. Mas tem um lado bom neste lance de servir: a gente se sente bem fazendo a alegria dos outros. Por isso também caprichava nas doses de whisky. Tanto que toda vez que um japonês (detalhe, o noivo era descendente de japoneses e a festa estava cheia de deliciosas mestiças) me encontrava no salão ele me abraçava e me chamava de Leandro e/ou de atleticano. E graças as minhas doses generosas (“sem miséria” como dizem) em pouco tempo o japa era o cara mais feliz da festa e eu o queridinho daquela “praça”.

Fiquei com três mesas, este conjunto de mesas é o que os garçons chamam de “praça”. Na minha havia um “apoiador” ou “amparo” – um móvel no salão que a gente coloca jarras, garrafas, balde de gelo, pra não precisar ficar indo  todo minuto pro bar – bar que no Jockey ficava lá nos fundos, bem próximo ao local onde ficam os donos do Buffet. Seu Cândido, o chefão, não estava no ambiente, mas deixou gente pra fiscalizar. Ainda assim deu pra beber um pouquinho. Mas posso dizer de boca cheia: trabalhei direitinho das 14 horas até o final da festa – lá por volta das 4h30 da matina.  Acontece que tudo ia bem, até que me acontece um sinistro:

Mulheres


Assim como me tornei o queridinho do japa, que acabou a festa todo vomitado, também me tornei o preferido entre as mulheres. Sério, elas começaram a se aproximar, a sorrir, a conversar pertinho. Se uma mulher se sente à vontade para sorrir contigo, tudo mais vem fácil (aprenda esta lição!). Mas nunca esqueci que tenho mulher, que a amo, e que naquela noite estava ali só pra servir.

E não existe coisa mais chata que um garçom em cima do cliente. Juro que não fiz isto. Acontece que à medida que trazia os vinhos, espumantes, mais gente eu “abria”. Fui super atencioso e profissional, servindo a todos e fazendo amigos (à luz da orgia, é claro). Acontece que aos poucos a relação com algumas pessoas (pasmem, foi mais de uma) foi ficando, digamos assim, periglosa. Percebi olhares, sorrisos, gracinhas.
Enquanto isto eu só trabalhando. E aqui está o charme! Vou te contar uma coisa sobre as mulheres: penso que elas não gostam de homem desocupado, sem rumo. Além de atração pelo o que é proibido. Então, creio que se estivesse de bobeira naquele lugar dificilmente despertaria atenção delas. E podem espernear, mas elas todas são iguais. Pois o que serve pra uma, serve pra todas.

Metade do trabalho já estava feito. Até ali tudo estava bem, já tinha até ganho a confiança dos fregueses e colegas, até que aceitei tirar uma foto com uma moça.

Não ria agora amigo leitor, tenho espelho em casa, mas depois da primeira foto começou a juntar mulheres querendo tirar foto comigo. Oh delícia! Até que uma mais assanhada pegou minha mão e me fez enlaçar sua cintura, se soltando em meus braços e me obrigando a segurá-la. Soltei minha espada. Nisso outra, que trabalhava de garçonete nos EUA, pegou minha bandeja e começou a juntar copos pra me mostrar nossas afinidades. Lembrei das sábias palavras de um colega “nunca deixe ninguém tocar na sua bandeja, pois a bandeja do garçom é a espada do samurai”. Não deu outra, a maitre viu a menina nos meus braços, a bandeja na mão de outra e quis me arrancar dali. Literalmente, me pegou pelo braço e fez um cabo de guerra com as moças.

Mesmo visivelmente gostando, sabia que aquilo não ia acabar bem pro meu lado. A resposta da maitre foi imediata: tirou-me da função e pôs pra carregar pratos da cozinha pro estoque. Da cozinha pro estoque. Da cozinha pro estoque. 300. Segundo a Juceli, aquele assédio tava causando falatório e até poderia “despertar a ira de algum marido”. Nesta hora pensei, poxa que culpa tenho de ter nascido assim?

Nem preciso dizer que, no fundo, gostei da história. Senão não contava aqui e nem tirava estas fotos – tudo com ajuda da minha mulher, é claro – num esforço pra registrar meu dia de garçom e de “galã”, pois vai saber se acontece novamente.

Acontece que depois daquela festa (minha primeira como garçom) nunca mais fui chamado pra trabalhar no Jockey. Arrumei outras “regras” em outros buffets, com outros maitres, mas nunca mais no jokei. Ouvi relatos parecidos – de garçons exaltados – e por isso te contei minha história amigo leitor, especialmente pra você que precisa de algum dinheiro “fácil” e já começa a pensar na possibilidade de trabalhar como garçom. E, se este for seu caso, escute este conselho: aprenda a ouvir os mais antigos e sempre tome cuidado, mas muito cuidado com as mulheres.


Serviço:

Telefones de Buffets: Mansão Merano (41) 3372-1621, Capri Eventos (41) 3285-5500, Estação (41) 3239-3099, Clube Curitibano (41) 3014-1981, Graciosa (41) 3015-5005
Taxa: entre 90 e 100 pilas por dia de trabalho
Horário: das 14 h (ou 16 h) até acabar a festa

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2 comentários:

  1. Garbln Says:
    dezembro 24th, 2008 at 1:07 pm

    O relato me prendeu até o fim. Parabéns pela matéria e pelo jornal!

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    leandro Says:
    dezembro 24th, 2008 at 1:13 pm

    caramba Garbin,
    tô com saudades de vc e do Diogo cara,
    vamos nos juntar pra tomar aquele vinho social já em janeiro!

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    pael Says:
    dezembro 24th, 2008 at 1:24 pm

    hahaha…. engracadissima a historia. sigo na opiniao do garbin, aquela materia que vc vai lendo rapido pra saber logo o que vai acontecer e so para no fim, sensacional!
    abraco

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    leandro Says:
    dezembro 24th, 2008 at 1:26 pm

    caralho tá juntando a turma de 2001 agora,
    q felicidade,
    cadê o Calvache?

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    $amuca Says:
    dezembro 24th, 2008 at 2:00 pm

    Hahahahahaha… tá muito engraçado aquela foto só de gravata… flw então galã…

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    leandro Says:
    dezembro 24th, 2008 at 2:06 pm

    fique perto Samuel que sobra uma pra vc, rs

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    leandro Says:
    dezembro 24th, 2008 at 6:08 pm

    brincadeira Sílvia

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    cajinha Says:
    dezembro 26th, 2008 at 12:52 pm

    sensacional.

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    leandro Says:
    dezembro 26th, 2008 at 1:11 pm

    legal este teu provedor de e-mail Cajinha,
    e sensacional é som que vc´s tão tirando bicho

    http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=52409122

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    Evair Says:
    julho 30th, 2009 at 12:41 pm

    quer aprender a servir chope?
    http://www.1001-bieres.com/1001-bieres-tireuse.swf

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  2. Você foi um sortudo, que não caiu em nenhuma confusão seria neste evento e nem ficou com a ficha suja no meio. Mas quanto a seu relato parabéns e peço até permissão para postar no nosso blog Garçom e Menu para deixar bem claro que não somos carregadores e bandejas e sim profissionais.
    Elias Antonio Rodrigues - Maître na Equipe Personal Garçom PE.

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