sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CENTRO E RECIFE ANTIGO

A nossa Thalita foi pra Recife concorrer num festival de cinema com seu documentário “Absolutamente Anselmo”, neste texto ela nos conta um pouco sobre a cidade


pub. dia 16/12/2008 por
Thalita Ubauba_thali@yahoo.com.br

Eu já viajei bastante pelo mundo. Geralmente sozinha. Já esperei ônibus de madrugada em Los Angeles, andei de metrô depois de meia-noite em Paris, perambulei pelo Harlem (bairro negro de Nova Iorque) sob a luz da lua, passei a noite na estação de trem em Viena e atravessei a Crackolândia em São Paulo. Já fiz minhas peripécias por muitos cantos e confesso que nunca senti tanto medo quanto no centro de Recife.

Após ter conhecido o marco zero de Recife (de onde se avista uma escultura que Brennand fez em homenagem aos 500 anos do Brasil – e que é o monumento mais fálico que eu já vi na minha vida) e passeado por Olinda, resolvi gastar meu tempo conhecendo alguns dos pontos turísticos famosos no centro da cidade como a Casa de Cultura, a Capela Dourada, o Mercado São José e a sede do governo do estado.

Desembarquei na Casa de Cultura – uma antiga prisão transformada em uma espécie de mercado municipal em que as lojas funcionam dentro das antigas celas – e me pus a procurar presentes pra família e amigos. Após o momento consumista, informei-me sobre como chegar à sede do governo pernambucano e ao Mercado São José e comecei a andar.

A cada metro andado, apressava o passo. Além dos inúmeros olhares que me despiam por onde eu passava, começou a incomodar-me a insistência de vendedores de camelôs e de mendigos à procura de esmola. Não bastassem as pessoas, as ruas são demasiado sujas, o que me passava a sensação de estar andando em terreno perigoso e impuro. Não consegui entrar na Capela Dourada por conta das dezenas de moradores de rua que se aglomeravam na entrada (cerca de 30, 40 pessoas), pedindo moedas e lançando olhares ameaçadores à minha pobre Sony Cybershot. Quando finalmente cheguei ao Mercado São José, estava tão enojada e amedrontada que sequer aproveitei o mercado. Dei uma única volta e logo saí, praticamente correndo.

Ao perguntar sobre o ponto de ônibus mais próximo, uma vendedora me respondeu que era mais seguro andar um pouco mais e pegar o ônibus em um local menos perigoso. Eu (muito macho), que queria assistir a Ixpórti e Coxa na Ilha do Retiro, desisti rapidinho. Prometi a mim mesma que nunca mais voltaria àquele lugar horroroso e voltei à Boa Viagem.



Contudo, dia em que encontrei um amigo pernambucano que me apresentaria a “night” recifense, ele fez questão de dar umas voltas extras de carro para me provar que o centro não era tão horrível assim (apesar de ele concordar que as pessoas são realmente assustadoras). E de fato, Recife à noite é, além de menos assustadora, muito mais bonita (o que embasa minha teoria de que o que estraga o Recife são as pessoas e não a cidade em si – visto que também são as pessoas que sujam as ruas). Apesar de ainda decepcionada, fiquei um pouco menos desgostosa com o centro.

De lá seguimos para o Bairro do Recife, também conhecido como Recife Antigo, onde se localizam muitas construções históricas, como a sinagoga Kahal Zur Israe, a primeira das Américas. É também lá que ocorre o melhor do carnaval recifense, mais tranqüilo que o de Olinda, onde trios elétricos são proibidos e a festa é comandada por blocos carnavalescos e manifestações culturais. Recife Antigo é muito bacana, com seu ar boêmio e suas dezenas de bares. Confesso que só não senti medo porque estava acompanhada de um “nativo”, pois a quantidade de flanelinhas supera o Largo da Ordem, com a diferença de que em Recife eles são muito mais falantes – logo, ao menos na minha concepção, mais assustadores. Mas o bairro é, no geral, extremamente agradável e os bares, muito bons.

Relembrando tudo que vivenciei, aconselho que ninguém visite o centro desacompanhado (especialmente se for mulher) e que dê um passeio pela cidade à noite, que é quando a tal “Veneza brasileira” parece surgir. A Casa de Cultura vale a pena tanto pra conhecer quanto pra fazer aquelas compras básicas de turista. Recife Antigo é imperdível à noite e, se possível, arrume um “guia” local pra fazer tudo isso com você. É o mais prudente.

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Um comentário:

  1. Franco Says:
    dezembro 16th, 2008 at 1:35 pm

    Uau, Thalita, você é uma tremenda Globtrotter!

    Será que o pessoal de Recife vai se manifestar diante das suas críticas?

    Abraço, e mande mais notícias!

    Franco

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    Thalita Uba Says:
    dezembro 17th, 2008 at 11:10 am

    Olha, as pessoas lá ficaram meio putas com o que eu falei (visto que disse a verdade sempre que me perguntaram “E aí, o que tá achando?”). Mas eles mesmo admitem que a cidade é muito perigosa. Além disso, todo mundo admitiu também que eu era muito “exótica” lá, então bastava me olhar pra saber que era turista, o que sempre gera mais interesse nas pessoas. Apesar disso, me disseram que parte o meu medo foi puro preconceito, porque as pessoas lá são “diferentes” das do sul e que nós sulistas, quando vemos pessoas assim, já pensamos que é bandido - o que nem sempre é verdade. Sei lá, eu não me senti confortável e sinceramente não acho que tenha sido sem motivos.

    Ademais, o festival de que participei foi eo João Pessoa, não em Recife. Fui pra Recife antes só pra passear :D

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    Franco Says:
    dezembro 17th, 2008 at 11:55 pm

    Thalita, e me diga uma coisa. Como está o rock nordestino, o tal do manguebeat por essas bandas? Continua forte? Conheceu alguma banda nova por aí?

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    Thalita Uba Says:
    dezembro 18th, 2008 at 12:44 pm

    Rock nordestino??? Isso é novidade pra mim, viu? hahaha

    Não, sem brincadeira, a maioria dos lugares onde fui o pessoal ouve música local: de forró a Alceu Valença, Zé Ramalho e até frevo! Em João Pessoa, a grande febre do momento é Vìtor e Léo (¬¬). Todas as rádios e bares tocam ou Vítor e Léo ou o novo estouro do forro, Forró do Muido, além da tradicional Aviões do Forró. Não há praticamente nenhum bar (segundo a menina na casa de quem eu fiquei e todos os seus amigos) que toque Rock. Rola no máximo um pop-rock mais tranqüilo. The Strokes, The White Stripes, Franz Ferdinand e Arctic Monkeys são coisas de que eles nunca ouviram falar. Conheci pessoas que (pasme) sequer conheciam Led Zeppelin!

    Em Recife, a cena é mais diversa. O maracatu, o frevo e o forró são grandes, mas há espeço para o rock, o blues e até o jazz. Contudo, não são muito populares, tem que conhecer bem a cidade pra saber onde ir. Eu fiz meu amigo me levar num bar de blues antes que enlouquecesse com tanto forró! Mas não conheci nada de novo, não (fora o Forró do Muido =P). Tem que andar com pessoas muito específicas pra conhecer o cenário roqueiro do Nordeste!

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