sexta-feira, 18 de novembro de 2011

OLINDA


pub. dia 19/12/2008 por
Thalita Ubauba_thali@yahoo.com.br

“É brasileira?”. “Sou.” Cara maliciosa: “É do sul, então”. Cara de quem já respondeu àquela pergunta algumas vezes aquele dia: “Sim”. Sorriso largo: “Altona, olhão verde… É modelo?”. Aqui chega o momento decisivo. Se digo que “sim”, o assunto morre. Se digo que “não”, vem o  “ah, mas devia ser” seguido de todos aqueles conselhos subseqüentes. “Sim”. “Ah”. Pernambuco é famosa por sua gente hospitaleira. Demais, até. Eu, curitibana arisca e crica, tenho problemas em aceitar a recepção calorosa dos habitantes de Olinda. E por mais que a gente tente cortar, eles sempre arrumam um assunto novo pra puxar papo: “Tá chovendo pra caramba lá agora, né?”.

Dizem que quando os portugueses chegaram a Pernambuco e subiram as longas ladeiras da Sé para admirar a bela vista, disseram: “Oh! Linda!”. Nada bobos, esses portugueses. De Olinda é possível vislumbrar algumas das paisagens mais bonitas do mundo, que compensam todo esforço (quase sobre-humano) de subir e descer suas intermináveis ladeiras sob um sol de 35°C. Além da paisagem lindíssima, as graciosas casinhas em estilo português - tombadas patrimônio cultural da humanidade - são um show à parte. Nas igrejas, destaque para os altares cobertos de ouro (literalmente). A única coisa que incomoda são os “guias” - pessoas que te perseguem pra cima e pra baixo contando a história de Olinda sem que você tenha pedido, a fim de ganhar umas moedas. Os vendedores de rua também são assaz inconvenientes, continuam no seu pé mesmo depois de você já ter comprado algo.


Destaque para a tapioca, que fiz questão de provar. Feita na hora pela pernambucana que cantarolava um frevo sem parar. Gostei também de ver a primeira faculdade de Direito do Brasil, onde estudaram Rui Barbosa e Castro Alves (ao menos de acordo com meu “guia”) e que hoje é moradia de alguns monges. A Catedral da Sé (apesar da perseguição dos “guias” e dos vendedores de bugigangas), é parada obrigatória não apenas por seu valor histórico-cultural, mas por abrigar a mais bela vista de Recife. Os largos e praças onde se encontram as esquinas de diversas ladeiras que são tomadas por milhares de pessoas e bonecos durante o famoso carnaval são uma graça, mas a casa de Alceu Valença – ele que me desculpe – não é lá das mais bonitas.

“Leve mais uma, isso aqui tu não vai encontrar mais barato em lugar nenhum, visse?”, ele me garantiu. “Oxe, mas faz um desconto pra ela”, disse o segundo. “Faz por 12″, um terceiro. Pensei em como os portugueses não pensaram que sua descoberta “Oh! Linda!” seria disputada pelos vendedores de toalhas de mesa. Pensei em como seria bom poder desfrutar de toda aquela beleza sem ser incomodada, comendo uma tapioca e tentando adivinhar qual casa seria a de Alceu Valença – “Deve ser a mais bonita”. Retornando à realidade, à bela cidadezinha tombada patrimônio histórico, à vista realmente “Oh! Linda!”, a um povo hospitaleiro demais para uma sulista conservadora e chata, sorri e, pela milésima vez, disse: “Não, obrigada”.

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