terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

MANIFESTAÇÃO PELO DIREITO DE IR E VIR POR R$ 3,80

Rodrigo Choinski é estudante de jornalismo da UFPR, mora no São Braz, tem uma mãe muito gente-fina. Trabalhou na campanha do PSOL para a prefeitura de Curitiba e está sempre metido em manifestações como a do dia 13 de fevereiro, pela redução da tarifa de ônibus. Sobre essa passeata ele nos relatou o seguinte:

pub. dia 20/02/2009 por Rodrigo Choinski – alternativistas-1@yahoo.com.br

A praça está como sempre, digo, sempre quando estas agitações tomam conta da cidade. Sempre que aqueles com sangue vivo nas veias, não mais seguram-se em seus postos de trabalho ou salas de aula, em seus lugares banais, definidos pela ordenação social, os lugares daquele dito autoritário e elitista: “ponha-se no seu lugar”.

Justamente o contrário nestes dias, impelidos pela humanidade, que com cuidado cultivam, saem dos lugares definidos, enfrentam a autoridade imposta. E tomam a praça pública, as ruas, o que for, dependendo de suas possibilidades.

Mas fale-nos, fale-nos como estava a praça!

Na praça uma mistura de cores vermelho-roxo-amarelo e negro-branco-laranja, apitos, tambores e pulos, enquanto a multidão denuncia, brincando e dançando: “quem não pula quer aumento!”. Na praça movimentos que fazem jus ao nome, movimentam-se! E partidos que não fecham com o governo, seja qual for…

Na praça também tensão, uma comissão de segurança. Afinal a menos de uma semana o Estado apareceu na sua função predileta: reprimir gente indefesa utilizando uma desculpa esfarrapada. O saldo: uns bons machucados, um osso trincado e um braço quebrado e claro a tentativa de abrir algum processo, já que a Justiça, fora seus conchavos, função primordial, compraz-se em tecer estes retalhos burocráticos de urdidura confusa, claro, sempre contra a gente pequena.

A comissão de segurança não usava uniforme ou arma, e nem de falsa autoridade para se impor. Sua função era evitar acidentes e incidentes e limitou-se a usar uma faixa amarela de feltro amarrada no braço para ser identificada.

E de repente precipitou-se! A praça ficou vazia e ao som do auto-falante repetindo ora palavras de ordem ora as exigências que se exigiam, as pessoas tomaram as ruas, contornando o prédio da Universidade Federal e seguindo em direção à Prefeitura. As pessoas nos ônibus e nas janelas dos prédios ficavam olhando. Um ou outro foi aderindo pelo caminho. Uma parada no Colégio Estadual, vários estudantes aderem, e toca a marcha. Nova parada, agora em frente a FIEP, avançando na pauta, sindicalistas no auto-falante conflagram as pessoas a dar um recado aos empresários, gritos de ordem ressoam pelos escritórios do prédio azul: “1,2,3,4,5 mil…ou param as demissões… ou paramos o Brasil!”.

Avançam, se estabelecem em frente à Prefeitura. Exigem que o prefeito receba uma comissão, não recebe. De repente, eis que surge o personagem chave, escondido no caminhão de som, (não é que acompanhou tudo desde o começo), aparece meio tímido diante dos discursos inflamados. Pesa-lhe representar quem representa, faltando-lhe figueira a que pudesse enforcar-se, o Judas-Richa cumpre a sina suicida precipitando-se para a malhação, levada a cabo pelos presentes, antes de ser consumido pelo fogo e tornar-se em amontoado de cinzas.

O preço da traição não foi de 30 moedas, como de seu correlato Iscariotes, mas de 30 centavos. Quantia em que aumentou a passagem como um dos primeiros atos de seu segundo mandato.

O texto, com as exigências dos manifestantes, é novamente lido para quem quiser ouvir. As entidades presentes fazem seus discursos e o ato vai se dispersando.

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