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quinta-feira, 17 de maio de 2012

UM FILME SENSORIAL

“EVA”, a mais nova produção do cinema independente de Curitiba tem a fragilidade como ponto principal e só foi possível pela interação da equipe com o projeto


pub. dia 08/03/2009 por Vanda Moraes - vandymoraes@yahoo.com.br


“Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Todo cineasta brasileiro ou apreciador desta arte já ouviu este, que é o conceito do cinema independente neste país. O curioso é perceber que, em Curitiba, este conceito não mudou.


Exemplo claro disso é o filme “EVA”, cujas filmagens foram finalizadas neste sábado, 07 de março. O filme, definido pelo diretor Arnaldo Belotto como simplesmente “sensorial” teve dois meses de gravações, sendo que foi filmado apenas nos finais de semana, já que todos da equipe têm trabalhos paralelos. “Nunca fiz cinema com dinheiro, sempre vivi este lado independente e autoral”, contou Belotto. “O termo independente não cabe para o “EVA”, porque é um filme dependente da equipe e das empresas que nos ajudaram com comida e equipamento. Enfim, cada pessoa doou um pouco do seu dinheiro, da sua atenção e muito do seu tempo”, avaliou.

Mas, a falta de dinheiro não representa um problema para nenhuma das 27 pessoas da equipe. Ao contrário, o filme só é possível pela interação que se percebe com a câmera ligada ou não. A maior parte das pessoas que tornaram o projeto de Belotto possível nunca tinha trabalhado com cinema. Entre eles o ator principal Bruno Girello que, além do filme, faz teatro e é cozinheiro. Como ele concilia todas as atividades? “É bem tranqüilo, me organizo bem com todas as funções, na essência as três são bem parecidas. Me canso, mas gosto.”, sintetizou Girello.

“EVA” é o primeiro longa-metragem do diretor. Segundo ele, este novo momento está sendo bastante tranqüilo, apesar de a escolha da equipe ter sido um tanto difícil, já que na produção de seus curtas, Belotto trabalha com poucas pessoas ou sozinho. “O roteiro passou em diversas mãos, tentei muitas pessoas antes de chegar a esta equipe final, mas no fim acabou em mãos certas”.

A equipe final é formada por sócios do diretor na Produtora Destilaria do Audiovisual, nas funções de direção de fotografia, assistente de fotografia e edição. Os outros integrantes são pessoas que Belotto conheceu através da internet e que tinham vontade de trabalhar em um filme. Já os atores foram selecionados de acordo com suas semelhanças com os personagens. No final todos acabaram somando para a construção do projeto. “Quando não existe incentivo financeiro devemos ser criativos, todos gostam de criar”, afirmou Belotto.

Para a atriz Carolina Fauquemont, é importante que diretores locais estejam colocando suas idéias em prática. “Fiquei feliz de saber que ele (Belotto) faria um longa independente. Eu admiro muito as pessoas que desenvolvem suas idéias, dão vida aos seus projetos”, afirmou. A atriz, que já realizou alguns trabalhos em cinema considera a participação em “EVA” como especial pelo fato de já conhecer o diretor e estar familiarizada como formato do projeto. “Eu sempre participei de curtas metragens independentes em Curitiba. Poucas vezes consegui dizer não. Essa arte me pega!”, disse.


Com as gravações encerradas, Belotto parte para a etapa de edição do filme. O término das filmagens desperta emoções antagônicas. “Totalmente deprimido com o término das gravações! Afinal, tudo isso deixará saudades. Mas, feliz com o resultado da captação e super ansioso pelo processo da edição, design de som e finalização”, afirmou o diretor.

A nós, resta esperar o dia 26 de julho, quando, de acordo com a equipe, o filme estará finalizado.


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A idéia como resultado de uma relação virtual



Uma parte da equipe que realizou o filme “EVA” conhecia o diretor apenas pela internet. O roteiro foi enviado ao ator principal pelo e-mail e a assessoria de imprensa divulga a produção através de contatos pela rede.

A equipe e o elenco foram escolhidos e, em 14 dias de gravações espalhados em finais de semana de janeiro e fevereiro de 2009, as filmagens acabaram. Agora, o diretor, o editor Lucas Negrão e a equipe de som entram em estúdio para a finalização. Esta é a etapa mais difícil segundo os responsáveis pelo som direto e pelo design de som Bem-Hur Lima Pinto e Rennan Deodato. “A proposta é fazer algo inovador e até arriscado”, afirmou Deodato.

A trilha sonora será toda original, composta pelo Duo Felixbravo, que também faz uma participação no filme. O diretor pretende criar algo inédito através do vazio e da fragilidade do personagem. Para isso o filme terá alguns momentos de silêncio absoluto e outros em que apenas o som ambiente será ouvido, com poucos diálogos.


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Não é sobre Albert, mas sobre sua fragilidade



Para o ator Bruno Girello, Albert é “simples, complexo, quieto, inquieto, enfim, contraditório, mas autêntico. Introspectivo e frágil”. O filme não é sobre Albert, Eva ou a relação dos dois, mas todos estes elementos são utilizados para falar da fragilidade do fotógrafo. Fragilidade esta que se acentua a medida que não consegue (ou consegue) se livrar de Eva. “Eva é a representação do amor perdido, do peso da ausência, da fragilidade, é a companheira. EVA é o significado de mulher”, definiu Belotto.

Em suma, EVA é um filme que explora a sensação que o diretor teve a partir de uma pessoa real, mas que não representa a biografia dela. O personagem Albert é um fotógrafo-retratista, cujo trabalho tem a cidade como pano de fundo. A visão que o expectador tem do personagem é construída a partir de seus retratos.

Em algum momento da vida, Albert interagiu com EVA, agora um corpo inerte, uma lembrança, um assunto não resolvido que o acompanha. A relação do personagem com esta “entidade” desencadeia uma jornada existencial que tem como finalidade exorcizar um passado e seus possíveis fantasmas.

Carolina Fauquemont, que interpreta o personagem Eva vai mais além. Para ela Eva é a ausência de uma personagem. E é também mais do que isso. Ela pode ter sido qualquer mulher, agora ela é apenas um corpo. Ela não pensa mais, não sente, está entregue à gravidade. “Eva sou eu à medida que fui eu quem a interpretou. Eva é o personagem de Albert, já que ele é a única testemunha pra nós de quem ela foi. Eva é a mulher que poderia gerar, que poderia viver, mas que adormece”, disse. “Eva é tudo aquilo que o expectador conseguir ver”, finalizou.


Apesar de interpretar um personagem sem vida, Carolina disse que aprendeu muito. “A vida no meu corpo é forte. Eva me fez reconhecer essa vida. A vida que existe em mim”, afirmou.



A produção, segundo Belotto faz parte de uma trilogia. O segundo filme será sobre Eva quando viva e o terceiro será a continuação deste primeiro, mostrando a vida ou a situação em que Albert se encontra. “EVA” foi feito de forma independente sem ajuda de leis de incentivo, mas Belotto pretende conseguir subsídios para os próximos filmes da trilogia. Para isso, o foco da distribuição será exclusivamente em festivais. “Pretendo ganhar alguma coisa com ele”, disse Belotto. Quando o assunto é como o publico receberá a produção, Belotto é bastante direto. “Não faço idéia! EVA é um filme de sensações, cada pessoa pode perceber de uma maneira diferente”, declarou.

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O diretor


Arnaldo Belotto
fez seus estudos entre 2004 - 2006 na Academia Internacional de Cinema, com especialização em Direção, roteiro e edição onde realizou vários trabalhos de destaque. Em 2006, atuou como presidente da Associação Kino-GlaZ - Sesc da Esquina - onde foi curador e realizava estudos sobre o cinema. Hoje, atua como sócio fundador da produtora Destilaria do audiovisual (PR).


TRABALHOS

2009
Happy Isles. Documentário (HDV) Direção, Fotografia e Edição.

2008
Tempo de cinzas. Documentário (HDV). Direção, Roteiro e Fotografia.

2007
Luce delle tenebre. Ficção (HDV). Direção, roteiro e edição.
Casa de Noé. Documentário (DV). Direção, Fotografia e Edicão.
O Batismo. Documentário (DV). Concepção.

2006
Sensorial. Documentário (DV). Direção, Fotografia e Edição.
Espírito da Contradição. Documentário (DV). Direção e Edição. (co-direção com Fernando Severo)

2005
O Cobrador. (DV). Direção.
Contralzerros. (DV). Direção.
Amor e Delirio. (DV). Direção e Roteiro.

OUTROS TRABALHOS

Videoclipes
Lenzi Brothers (SC) – Allana – Direção - 2min – 2008 – exibido na MTV
Charme Chulo (PR) – Mazzaropi Incriminado – Direção – 2008 – exib. na MTV



SickSIckSinners (PR) – Beer and flach meet – Direção - 2008 – exibido na MTV
Faichecleres (SP) – Seu Cafajeste – Direção - 2007 – exibido na MTV



Kings Of Convenience (EUA) – The build up – Direção – 2007
Faichecleres (SP) – Alice D – Direção - 2006 – exibido na MTV
Anacrônica (PR) – Vestígios – Direção – 2006
Anacrônica (PR) – Deus e os Loucos - Direção - 2006

especial  filme Eva, por Vanda Moraes

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

RECORTE DO CINEMA PARANAENSE

Satori Uso

parte 2


por dia. 12/01/2009 por Vanda Moraes - vandymoraes@yahoo.com.br

Em “Booker Pittman”, o curta que ganhou cinco prêmios no Festival de Gramado, Rodrigo Grota passeia pela vida de um músico americano dos anos 50. A fotografia, assinada pelo próprio diretor faz com que o expectador siga a luz em direção a essência do jazz. Segundo Grota a intenção deste filme, bem como de todos os outros que produziu até agora, não é filmar a biografia dos personagens, mas sim captar fragmentos de sua trajetória e de sua personalidade.


A produção dos filmes é feita de maneira quase artesanal. Permite uma viagem pelo tempo e espaço filmado. “Booker Pittman” reconstitui em suas cenas, Dallas de 1920, Nova York de 1930 e Londrina de 1950 com uma fidelidade assustadora. Os planos bem encadeados com os depoimentos permitem um envolvimento mágico com o objeto filmado.

Os filmes de Grota são feitos com uma equipe de dez a quinze pessoas, sendo que dentre estas, pode-se encontrar tanto profissionais da área cinematográfica quanto amadores envolvida em todas as etapas de produção. Todos os filmes são produzidos pela Kinoarte, empresa da qual Grota é colaborador, alguns com apoio do poder público e outros com recursos próprios. “Quando temos apoio local, contamos com patrocínio da Prefeitura de Londrina, via PROMIC - Programa Municipal de Incentivo à Cultura. Recentemente aprovamos um filme em um edital federal organizado pelo Ministério da Cultura.”, afirmou Grota.

A distribuição dos filmes é a etapa mais complicada para os cineastas paranaense, estado ainda considerado periférico na produção cinematográfica, apesar de iniciativas bem sucedidas como o Filme “Estômago” do realizador Marcos Jorge e o mais recente “Mystérios” de Beto Carminatti. A exemplo destes e outros realizadores locais, Rodrigo Grota se utiliza das leis de incentivo e de seus próprios recursos para a viabilização de seus projetos. Para a distribuição dos filmes, Grota ainda não conta com captação de recursos.

Os filmes são distribuídos pela Kinopus Audiovisual. A empresa divulga os filmes em sua homepage e agiliza os contratos de exibição. A produção de Grota está disponível apenas no território nacional. Recentemente uma distribuidora americana e uma espanhola entraram em contato com o diretor com a proposta de assistir ao curta Booker Pittman. Segundo Grota estão sendo efetuados contatos para a distribuição em Los Angeles e Barcelona. O curta “Satori Uso” foi lançado nacionalmente pela Programadora Brasil, um projeto Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, desenvolvido por meio da Cinemateca Brasileira e do Centro Técnico do Audiovisual.

Enquanto as parcerias de distribuição são esparsas ou inexistentes, a ferramenta mais utilizada para levar os projetos ao grande público é a internet. Segundo Grota, a web ainda é a maior vitrine de seus filmes, os quais estão disponíveis no Kinoarte Channel e no canal da kinoarte no youtube. Além disso, o realizador participa de blogs e discussão na internet e colabora com a Revista taturana


Outro método de distribuição utilizado são os festivais e mostras cinematográficas. “O papel dos festivais é fundamental. Sem os festivais não existiríamos para público algum”, afirmou Grota. O Festival de Gramado proporcionou uma boa visibilidade do curta “Booker Pittman”. Neste ano a Kinoarte realizou a décima edição da Mostra Londrina de Cinema em parceria com a prefeitura Municipal de Londrina. Em dez anos a Mostra exibiu cerca de 500 filmes em 30 pontos espalhados pela cidade de Londrina e região, atingindo um público de mais de 30 mil expectadores. Além disso, a Kinoarte realizou a Primeira Mostra Marília entre os dias 30 de outubro e dois de novembro.

A Mostra Marilia faz parte de das novas diretrizes da empresa, que visa contribuir para a difusão do cinema não somente no Paraná, mas também no estado de São Paulo. Foram exibidos 50 filmes entre curta e longas-metragens, sendo que o destaque foi a primeira exibição, em Marília, do filme “Pé de veludo”, do realizador mariliense Eduardo Reginato. “Pé de Veludo” foi filmado em 1996 e conta a história de um bandido que ficou famoso na região após formar uma quadrilha com seus irmãos, na década de 60.
Segundo Grota a resposta do público para os seus filmes geralmente é positiva. O público em geral pode ter acesso total aos materiais pela Web. Em DVD, os filmes estão disponíveis pela Kinaorte ou pela
Programadora Brasil. O trabalho do realizador, apesar de contar com mais de 20 curtas, ainda não é muito difundido ao grande público. Isso se deve ao fato de a mídia paranaense não disponibilizar o espaço devido às produções locais. Os trabalhos são bem divulgados na região de Londrina, mas no restante do estado só recentemente ganhou alguma visibilidade.

Isso também acontece com o reconhecimento da obra. Na região de Londrina há um reconhecimento, sendo que em escala nacional o trabalho só é parcialmente reconhecido. Isso ocorre de forma efetiva em um publico mais especifico. Entre os críticos e realizadores as produções de Grota já são bem conhecidas e difundidas.

Rodrigo Grota está desenvolvendo vários projetos em 2009. O realizador finalizou curta chamado “Fim da Linha”, em parceria com 20 alunos na Lapa, PR e irá rodar “Pausa para a Neblina” no primeiro semestre de 2009. O curta “Maria Angélica”, de Francelino França, está sendo finalizado e deve estrear no primeiro semestre do próximo ano. Também em 2009 pretende rodar o primeiro longa-metragem de sua carreira: “Tango, Chuva e Silêncio”, um projeto que vem sendo desenvolvido há alguns anos.

Grota é um dos mais jovens realizadores paranaenses e vem desenvolvendo uma produção bastante linear, além de outros projetos paralelos como as mostras e festivais. A sua avaliação do próprio trabalho consiste simplesmente em uma frase: filmes “incompletos”.
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ENTREVISTA COM O CINEASTA RODRIGO GROTA


pub. dia 11/01/2009 por Vanda Moraes - vandymoraes@yahoo.com.br

Produção
1. Como é feita a produção de seus filmes?
Todos os filmes são produzidos pela KINOARTE. Alguns contam com apoio do poder público; outros, não.

2. Como são captados os recursos? Há a colaboração de algum órgão governamental ou comercial?
Quando temos apoio local, contamos com patrocínio da PREFEITURA DE LONDRINA, via PROMIC - Programa Municipal de Incentivo à Cultura. Recentemente aprovamos um filme em um edital federal organizado pelo MINISTÉRIO DA CULTURA.

3. A produção é profissional ou é baseada em ações voluntárias de amigos ou colaboradores?
Trata-se de algo misto. Há sempre profissionais e amadores envolvidos.

4. Em média, quantas pessoas fazem parte da equipe?
De 10 a 15.

Distribução

1. São feitas ações efetivas de distribuição dos filmes prontos. Se sim, quais são estas ações?
Os nossos filmes são distribuídos pela KINOPUS AUDIOVISUAL. Eles divulgam os filmes em sua home Page e agilizam os contratos de exibição. Recentemente uma distribuidora americana e uma espanhola entraram em contato querendo assistir ao nosso curta BOOKER PITTMAN. O curta SATORI USO foi lançado nacionalmente pela PROGRAMADORA BRASIL, um projeto do MINC.

2. Quais são os recursos utilizados?
Para distribuição ainda não contamos com recurso.

3. Os filmes são distribuídos apenas no Brasil?
Por enquanto sim, mas como te disse, já há contatos em Los Angeles e em Barcelona.

4. Quais as ferramentas utilizadas? A internet tem um papel decisivo?
Sim, a web é a melhor vitrine para os nossos filmes. Todas as produções da KINOARTE estão disponíveis no KINOARTE CHANNEL, o canal da Kinoarte no Youtube.

Público
1. Em que escala o público tem acesso aos materiais produzidos?
Pela web, acesso total. Por DVD, entrando em contato com a KINOARTE ou com a PROGRAMADORA BRASIL.

2. Qual é a resposta do público?
Geralmente boa.

Mídia
1. Como é o relacionamento de sua obra com a mídia?
Nossos trabalhos são bem divulgados em Londrina. No Paraná, apenas recentemente ganhamos espaço.

2. Há um reconhecimento local? Há um reconhecimento nacional? Qual é mais efetivo?
Local sim. Nacional, parcialmente. Isso ocorre mais no meio cinematográfico: entre críticos e realizadores já somos conhecidos.

3. Qual é o papel dos festivais para divulgação e distribuição de seus filmes?
Fundamental: sem os festivais não existiríamos para público algum.

Existe alguma projeto em andamento? Os rumores que dizem que a trilogia não será completada são verdadeiros?
A trilogia será completada: iremos rodar “Pausa para a Neblina” no 1o semestre de 2009. O curta “Maria Angélica”, de Francelino França, está sendo finalizado e deve estrear no 1o semestre do próximo ano. Em 2009 queremos rodar o nosso 1o longa: “Tango, Chuva e Silêncio”. Acabamos de rodar com 20 alunos um curta chamado “Fim da Linha”, na Lapa, PR.

Como você avalia sua obra?
Filmes “incompletos”. (gosto disso)

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

FESTIVAL DE CINEMA DO PARANÁ


Respeitável público.
Luz, câmera, ação.

Tudo começou quarta-feira da semana passada. Soube, através de um grande amigo meu, da existência de um Festival de Cinema do Paraná. A grande mídia, curiosamente, não falou sobre o assunto. Fui informado também que esse festival estava sendo realizado no Museu Oscar Niemeyer. Ou seja, nas proximidades de meu Lar Doce Lar e ao lado do meu local de trabalho.

Sendo assim, corri em direção ao “Olho” e, logo de cara, pude rever dois adoráveis companheiros. Leandro Hammerschmidt e Igor Kalashnikov lá estavam, prontos para saborear o Festival. Após um bom tempo fora do Brasil, é sensacional rever figuras que fazem parte de nossas Vidas…

Logo em seguida, entramos numa sala onde estavam ocorrendo palestras, seminários e oficinas. Neste recinto, pude assistir, do início ao fim, um tal de “Terra em Transe”, de um tal de Glauber Rocha. Na faixa. Não paguei nada, e pude mergulhar num dos melhores filmes da história do cinema brasileiro. Surreal. Real. Absurdo. Vivo. Insano. Verdadeiro. Psicodélico.

Continuei pelas redondezas, admirando a beleza arquitetônica do local, e entrei no auditório “titular” para conferir uma mostra de curta-metragens. Filmes bons e ruins ao mesmo tempo. Destaque para o documentário “Solitário Anônimo”, de Débora Diniz. A diretora brasiliense soube conduzir com maestria a trajetória de um idoso sábio, andarilho e descontente com a vida, que resolve abandonar sua casa, morar nas ruas e deixa de se alimentar, entregando-se ao caminho da morte. Ele, porém, não consegue alcançar esse objetivo, pois acaba sendo internado num hospital e é alimentado “na marra”. Um filme que coloca em xeque a questão do livre arbítrio, se podemos ou não realizar as nossas escolhas.

Após acompanhar mais um solitário anônimo nesse mundo injusto em que vivemos, permaneci no auditório e acompanhei o filme argentino “As Mãos” (Las Manos), de Alejandro Doria. Película redonda, fotografia interessante, estética apurada. Peca, porém, no teor excessivamente religioso do enredo em questão, muito embora com ótimas interpretações do elenco em cena.

Sexta-feira chegou, e as celebridades também. Apesar de não ser um dia de número 13, José Mojica Marins lá estava. ZÉ DO CAIXÃO, em carne, osso e unhas nos brindou com sua simpática presença. O mito ainda vive, e veio à Curitiba para lançar a sua “Encarnação do Demônio”, completando uma trilogia idealizada há mais de quarenta anos. Particularmente, adorei o resultado final. Sangue, psicopatias, fortes mensagens e belas mulheres nuas foram servidos num delicioso prato. Viva Mojica!

Antecedendo o Zé do Caixão, o cinema paranaense foi destaque com a bela obra “Cortejo”, de Marcos Stankievicz e Joba Tridente. Sem conter diálogos, o filme mostra uma inovadora forma de linguagem, onde as cenas se desenrolam de forma poética. Contando com uma bela e sedutora protagonista, “Cortejo” possuem também uma inspirada trilha sonora. Tudo isso filmado, claro, em película.

Ainda na sexta-feira, chegou a vez de “Mystérios”, que ganhou o prêmio de melhor direção. Beto Carminatti e Pedro Merege, os diretores premiados, realizaram esse filme, baseado em textos de Valêncio Xavier. Inteiramente rodado em Curitiba, “Mystérios” traz Carlos Vereza na pele do impagável protagonista. Contando também com outros atores globais, esse filme transporta o espectador para uma Curitiba da década de 60, do Passeio Público, da chegada do homem em terrenos lunares. Os mistérios que envolvem as noites curitibanas e as mentes das pessoas são brilhantemente narrados por Vereza, que observa, com muita poesia, o charme e os segredos da bela Stephanie Brito, a eterna Lolita dos apaixonados de plantão…
Sábado em cartaz, e curta-metragens também. Antes de conferir os filmes do dia, houve mais reencontros memoráveis. Eduardo Nascimento Rohn e Eduardo Martins Amatuzzi (sim, xarás!) lá estavam. Após mais esse “momento máximo da consagração”, volto à sala de exibição, e deparo-me com sonolentas e interessantes obras, que se alternam com incrível maestria. Gostei de “Sete Vidas”, dos diretores Marcelo Spomberg e Zé Mucinho, de São Paulo. Muito feliz a escolha por Selton Mello para narrar o filme. Um gato (felino) é o carismático protagonista.

Domingo, então, marcou o encerramento do festival. Premiação aos vencedores e a exibição de mais alguns bons curtas, tais como “Os Dias Cinzas”, de Bruno de Oliveira e “Com as Próprias Mãos”, de Alysson Muritiba. Psicopatia, sangue e violência marcam ambos filmes, que exploram algumas mazelas humanas, tais como a sede de vingança e a mente doentia do homem/mulher “modernos”. “Satori Uso”, do diretor londrinense Rodrigo Grota, encerrou a noite como um belo exemplar do “cine-arte”, de um filme alternativo que prima pela beleza fotográfica.

Outros ótimos reencontros também marcaram esse domingo. Franco Caldas Fuchs, Emanuela Khalil, Rafael Dias e Ana Niculitcheff deram o ar de suas graças. Eu só esperava a presença de um maior número de alunos e ex-alunos de Comunicação da UFPR. Vou supor que todos estavam muito ocupados durante todos os dias do Festival. Tudo bem, espero ver vocês em outras ocasiões. E a cobertura da mídia local também deixou a desejar. Rivalidades entre governo do Estado e emissoras de televisão ficaram evidentes.

E, antes de ir embora do Niemeyer e do Festival, ainda houve tempo para um coquetel de despedida, onde o ator Selton Mello gentilmente me “colocou para dentro”, pois só “convidados” poderiam entrar no início do “comis-e-bebis”. Descolamos também o telefone da casa do ator Carlos Vereza, que gentilmente atendeu os repórteres do Jornal TiraGosto - Leandro Hammerschmidt e Jackson Sardá - e disponibilizou seu telefone residencial no Rio de Janeiro, visto que Vereza não possui e-mail nem computador, e não pretende ter um. Entendo perfeitamente ele. Rodrigo Juste Digão Duarte e Maurício Olinda Cio-ri-mau, o lendário motorista do filme “O Condutor”, também estavam presentes no Festival. É isso aí galera, vamos fortalecer cada vez mais o Cinema Paranaense!

Jackson Sardá.
13/10/2008.

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