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sexta-feira, 18 de maio de 2012

O SPIRIT DE QUEM, MESMO?

pub. dia 16/03/2009 por Joba Tridente - jobatridente@hotmail.com

O ano 2009 talvez fique marcado pela adaptações cinematográficas dos clássicos dos quadrinhos como Watchmen (de Alan Moore) na visão de Zack Snyder e The Spirit (de Will Eisner) na visão de Frank Miller.
No entanto, se em Watchmen, de Zack Snyder, é possível encontrar algumas qualidades, no desastrado The Spirit, de Frank Miller, encontra-se apenas o marasmo, o equívoco, a galhofa, a caricatura do adorável personagem de Will Eisner (1917-2005).

The Spirit, o filme é, digamos… Então, tem aquele celular em 1940… Ah, tem também aquela cena do laptop… Deixa eu ver, acho que tem uma músiquinha… Ah, tem as gags de desenho animado… Nas mãos estranhas de Frank Miller, que até prometia, na co-direção de Sin City, The Spirit é contrangedor. E olha que Miller assinou contrato para mais dois filmes do personagem. Will Eisner que se cuide na tumba ou, já que Spirit faz companhia a ele no mundo dos mortos, que o envie à Terra em missão boicote.

Muito se fala da estética de The Spirit ser semelhante à de Sin City. Eu diria estar mais para genérica. Mas esse nem é o problema maior de The Spirit, já que a maior influência de Miller, nas suas irrepreensíveis HQs, foi Will Eisner, com seu jeito cinematográfico de desenhar e escrever uma boa história cheia de contradições humanas e por isso verdadeira. O problema desta adaptação é que não há adaptação, apenas embromação. O que se vê na tela é praticamente um Spirit inventado por Frank Miller. Algo como se ele tivesse ouvido falar de um personagem genial que parecia ter vivido aventuras assim e assado mas não se tinha muita certeza e então, com um, digamos, “roteiro” do espírito doido, se pôs a filmar. Como se lhe bastassem lembranças esparsas de um personagem de HQ, herói de ocasião e irônico por natureza…, porém boa gente. Tudo bem que HQ é HQ e cinema é cinema…, desde que seja cinema. Frank Miller é um dos maiores mestres da narrativa, mas em HQ. Aqui ele não sabia que tinha tanta casca de banana pelo caminho.


The Spirit, personagem criado pelo genial Will Eisner em 1940 e aposentado em 1952, com diversas tentativas de voltar à ativa (em 1998, pelos geniais Alan Moore e Dave Gibbons, e em 2007, por Darwyn Cooke), é o policial Denny Colt, tido como morto, que “volta à vida” na pele de um investigador e apavora os vilões que agem principalmente, nas sombras, em Central City. Temido pelos malvados, perseguido por vilões, amado pelas mocinhas e vilãs maliciosas, Spirit é um “herói” às avessas. Em meio a crimes, romances, mistérios, ele apanha muito, também bate, mas acaba solucionando os casos mais estranhos com tiradas geniais, filosóficas, com humor ferino…, mas divertido. The Spirit, de Will Eisner, merece uma releitura melhor.

The Spirit, o filme traz Gabriel Macht, na pele do herói, Dan Lauria (Comissário Dolan), Sarah Paulson (Ellen Dolan) e os vilões: Samuel L. Jackson (Octopus), Scarlett Johansson (Silken Floss), Eva Mendes (Sand Saref) e Paz Vega (Plaster de Paris)…, nenhuma atuação que mereça algum destaque.
The Spirit não é um filme para fãs do personagem ou até mesmo para quem ouviu falar dele, já que é ridículo demais para ser levado a sério. Mas os desavisados podem até gostar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

WATCHMEN - VIGILANTES VIGIADOS

Gladson Marques e Joba Tridente (dois viciados em quadrinhos) se encontraram na pré-estréia do filme Wathcmen. Ontem publicamos a resenha do primeiro e agora você pode ler a do Joba

pub. dia 06/03/2009 por
Joba Tridente - jobatridente@hotmail.com

Os anos 1986/87 foram um marco no mundo dos quadrinhos com o lançamento da estranha e antológica minissérie Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibson, em 12 alucinantes capítulos, envolvendo um grupo de “heróis” num mundo (ainda) em convulsão política e social. Agindo isoladamente ou em parcerias, os Vigilantes Mascarados são sonhadores, egocêntricos, arrogantes, prepotentes e crédulos de que a paz na cidade de Nova York e no mundo depende da ação deles. Mas, se fantasiados procuram passar a imagem de verdadeiros paladinos, em defesa dos fracos e oprimidos (e também a serviço dos governantes e poderosos), sem a máscara (foras da lei ou não) são pessoas tristes, homens e mulheres com todas as suas idiossincrasias.

Duas décadas depois Watchmen chega ás telas de cinema e se vai causar o mesmo impacto é difícil de se prever, apesar da boa produção, e da mão pesada mas certeira de Zack Snyder, o mesmo diretor do espetacular 300, baseado na HQ 300 de Frank Miller. Também porque Alan Moore, com todos os seus subtextos políticos e paralelismo antropológico, é prolixo e exige um pouco mais (bem mais) de paciência com a sua obra do que Frank Miller.

Ao contrário da HQ V de Vingança, também de Alan Moore, que se passa na década de 1980 e foi atualizada pelos irmãos Wachowski para ganhar a telona em 2006, Watchmen continua em 1985, com toda a paranóia que tomou conta da década com a Guerra Fria, a iminência de conflito Nuclear e ainda os resquícios da Guerra do Vietnan. Uma década de medos e de alguma esperança na paz. Watchmen, com roteiro de David Hayter e Alex Tse (sem qualquer participação de Alan Moore), está um pouco mais palatável, mas não menos complexo e às vezes até ininteligível em algumas citações - como na estranha conversa/desabafo de Comediante com Moloch sobre a ilha onde estão os artistas, escritores e cientistas desaparecidos - que só faz sentido com o desfecho original da HQ.

É claro que quem espera encontrar a HQ, quadrinho a quadrinho, vai se decepcionar um pouco. A dramática história dos Vigilantes Mascarados está ali, com suas questões políticas, sociais, psicológicas ao extremo, retratando um grupo de pessoas, onde cada um é cada vez mais cada um, na sua megalomaníaca busca pela paz no mundo, acreditando que os seus atos (até mesmo os imperdoáveis) serão justificados no fim. Porém, em versão cinematográfica, onde situações (e personagens) que parecem não ter importância foram descartadas (jornaleiro e seus fregueses, leitor de gibis, história do gibi, investigadores, gangues) e outras reescritas, fazendo a violência, por exemplo, que é apenas insinuada na HQ, ganhar ares além do real (e da necessidade) na telona.

À primeira vista Watchmen encanta pela sua plasticidade e trilha sonora, mas a sensação final é de que para uma razoável reflexão sobre o que é ser humano o diretor lapidou demais os Vigilantes Mascarados. Para quem não conhece a HQ recomendo que a leia depois (ou antes) de ver o filme. Mas sem esquecer que Watchmen, a HQ, é uma coisa e Watchmen, o filme, é outra, apesar das semelhanças e diferenças.

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O MENINO DA PORTEIRA


pub. dia 04/03/2009 por Joba Tridente - jobatridente@hotmail.com

Finalmente chega aos cinemas a esperada nova versão (ou seria visão?) de O Menino da Porteira, estrelada pelo cantor Daniel e com direção de Jeremias Moreira, diretor também da versão original, protagonizada pelo cantor Sérgio Reis, em 1976. Se na versão anterior o filme atingiu um público de cerca de 3 milhões, é bem provável que repita e dobre este número de espectadores. Apesar de que, também no cinema, quando se trata, principalmente de filme nacional, a bilheteria é uma caixinha de surpresa. Quem apostava em Dois Filhos de Francisco ou Tropa de Elite, paralelo à pirataria, ou ainda no Se Eu Fosse Você 2?

Com um roteiro bem redondo, do próprio Jeremias Moreira, juntamente com Beto Moraes e Carlos Nascimbeni, baseado na clássica canção sertaneja de Teddy Vieira e Luizinho, O Menino da Porteira, gravada em 1955, o filme é de uma simplicidade tocante e sem dúvida pode surpreender, arrebanhando um bom público para as salas de cinema. Principalmente aquele que gosta de um bom causo na medida certa, nem maior e nem menor que o tempo de uma toada…, ou da passagem de uma boiada. Quem nasceu e viveu toda a infância no interior sabe do que estou falando e há de ficar saudoso. É que o tempo desses causos já vai longe, junto com a sua música. E já não se encontra nem mesmo propaganda de lojas nas porteiras, árvores e pedras das estradas.

O Menino da Porteira, que conta a história de Diogo (Daniel), boiadeiro que ao tocar uma boiada pras bandas de Ouro Fino acaba se envolvendo com os problemas dos pequenos sitiantes locais, que querem um preço mais justo para o seu gado do que o praticado pelo famigerado Major Batista, além da presença do cantor, que não compromete o filme, vem com boas atuações de José de Abreu (Major Batista), Eucir de Souza (Otacílio), Vanessa Giácomo (Juliana), Rosi Campos (Filoca) e o encantador menino da porteira João Pedro Carvalho (Rodrigo).

Rodado no interior do estado de São Paulo, com locações em Brotas e na cidade cenográfica construída para o filme no Pólo Cinematográfico de Paulínia, O Menino da Porteira é todo pontuado por um trilha sonora, às vezes ilustrativa demais, porém envolvente, aos cuidados de Nelson Ayres. Com um apuro técnico inacreditável, para uma produção de pouco menos de 10 milhões de reais, o seu ponto forte é percebido (e como!) na belíssima fotografia de Pedro Farkas, direção de arte de Adrian Cooper e montagem precisa de Manga Campion.

Como um bom berrante, O Menino da Porteira oferece um som para cada gosto, tangendo leve mas continuamente em três tempos: o das brincadeiras de criança; o das boiadas com seus amores estradeiros; o dos sonhos virando realidade ou pesadelo. Não sei dizer se esta versão de O Menino da Porteira (com Daniel) é melhor ou não que o filme original (com Sérgio Reis), porque (como muita gente) não me lembro da velha versão. O que não tem a menor importância. Os tempos são outros, mas a canção continua a mesma…, e emocionando.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

WOODY ALLEN DE TODOS OS DESEJOS E VONTADES


pub. dia 25/11/2008  por Joba Tridente - jobatridente@hotmail.com

Filme Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen.

Curitibano, de certa forma, não acha muita graça em comédia de Woody Allen. Humor inglês, então, nem pensar. Bem, como não sou (apenas estou) curitibano, me sinto livre para rir de tudo que é e que pareça ser engraçado.

Sessão da tarde.
Eu me divertindo, rindo. Na minha frente duas mulheres cochichando, durante o filme todo  Filme termina e um delas me olha por um bom tempo e depois sai. Acompanho os créditos. Saio da sala. Elas estão me esperando querendo saber porque eu ria tanto.

- Como assim?

- É um filme dramático, tenso, sério, como o senhor pode achar graça?

- É um filme de Woody Allen, com a sua paleta de humor para todos os gostos (evidentemente para quem gosta de um bom humor): sutil, ferino e até mesmo negro, sempre desvelando o que nos parece o ridículo de cada um.

- O senhor acha que somos ridículos? O ser humano é ridículo?

- Acho! Principalmente quando amamos sem qualquer limite. Woody Allen brinca com todas as possibilidades do amor e o desejo intenso, reprimido, ciumento, neurótico, possessivo… Se amamos intensamente somos ridículos. Se reprimimos intensamente esse desejo somos ridículos. O que torna a vida, de certa forma, divertida, se não para a gente, ao menos para os outros. Sim, porque se não somos nós, são os outros. Há sempre o eu e o outro. O ser humano complica o que parece simples: a entrega ao prazer.

Ah, o desejo! Ah, a vontade!

Há sempre um bando de críticos enfadonhos enterrando Woody Allen, filme após filme, como se ele fizesse filme para a crítica e não para o seu público cativo ou não. Viva Woody Allen! Assim como em Dirigindo no Escuro, fica claro (ôpa!) que tudo é uma questão de como se vê um filme do grande diretor. Acredito ter visto todos os filmes de Woody Allen e penso que em nada perdeu sua produção européia: dos londrinos Match Point, Scoop e O Sonho de Cassandra ao espanhol Vicky Cristina Barcelona. Não o vejo como um Woody Alien em terras do velho continente, mas um sujeito ainda com os pés bem firmes no chão e sabendo muito bem onde anda ou navega. O amor e as relações humanas (até mesmo as não-humanas), o desejo e a repulsa ao sexo, em mãos certas, pode resultar em deliciosas e maravilhosas obras de arte, como no filme Cashback, de Sean Ellis, com uma edição fantástica e um registro fetichista raramente visto no cinema.

No delicioso, divertido e alucinante Vicky Cristina Barcelona tudo funciona: roteiro, atores, música belíssima, fotografia magistral…, muito além de um simples postal. Nele, talvez o mais sensual dos filmes de Woody Allen, enquanto o amor é desejo intenso, o sexo se insinua em cada recanto turístico ou não de Barcelona e de Oviedo. A luz quente, a brisa campestre, o roçar de corpos, o sussurro, a música catalã…, tudo tão à flor da pele, transforma expectador em bem mais que mero voyeur

O sensualíssimo Vicky Cristina Barcelona (Juan Antonio Maria Elena) visita Woody Allen de outros tempos e outros filmes, mas por outras portas e janelas sempre abertas para novas experiências amorosas, avassaladoras, transgressoras, inesperadas…, e nunca confessadas.  É divertido e longe de qualquer divã!

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

FALAS AO ACASO


pub dia 23/10/2011 por JobaTridente - jobatridente@hotmail.com

Dia 16 de outubro eu e Marcos Saboia fomos apresentar o filme CORTEJO no Instituto de Educação do Paraná, aqui em Curitiba. No debate, uma professora questionou a veracidade dos Documentários. Marcos disse que Documentário também é cinema. Ou seja, nem tudo é o que realmente parece ser. Em meio a reconstituição ou não de fatos me peguei falando do que é e do que parece ser em Clarita, o incômodo documentário de Thereza Jessouroun, um dos curtas apresentados no 3º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, que traz a premiada atuação da grande atriz Laura Cardoso. Nele a diretora nos desvela a sua mãe Clarita, portadora da Doença Alzheimer.

Longe de Clarita
Clarita está com Alzheimer. Laura não. Laura não é Clarita. Laura está Clarita. Está mais que Clarita. Clarita está longe, onde não se chega são. Laura quer nos levar onde Clarita está. Mas não alcançamos nem uma e nem a outra. Clarita, perdida em si mesma, não se traduz. Laura interpretando Clarita nos apavora, gela. Laura é a ficção do real. Clarita é real. Em Laura o Alzheimer parece teatro. Em Clarita não.

Clarita, de Thereza Jessouroun, é um filme denso. Tenso. Porém, te alcança, tangencia, mas não toca como devia. Como se espera. Como se deseja. Em Clarita há o real e o que quer parecer real. Mas não é! Provocando no expectador um estranho refluxo sentimental de entrega e afastamento. Por que a ficção nos toca mais que a realidade?

No seu Almanakito, a jornalista Maria do Rosário, que esteve com a cineasta após o debate, diz que: Numa conversa que tivemos depois, Thereza fez críticas ao filme canadense, Longe Dela (Sarah Polley), que eu amo. Disse que o que se vê ali é romantizado perto do que sofre uma pessoa, vítima de Alzheimer. Me deu informações que eu não tinha. Mas, mesmo assim, continuo amando o filme canadense.”

Eu também gostei demais de Longe Dela, de Sarah Polley, e indiquei o filme pra amigos. Longe Dela fala do mesmo assunto, Alzheimer mas retrata os diversos estágios da doença de uma forma mais delicada, sutil, numa outra cadência. Mais ao gosto do expectador? Longe Dela não é o contrário de Clarita, apenas diferente no olhar e no envolvimento das diretoras e no tempo de reflexão oferecido a cada expectador. Enquanto Sarah Polley trabalha com a ficção, baseando-se no conto The Bear Came Over The Mountain, de Alice Munro, Thereza Jessouroun, trabalha com uma história real, na pessoa viva da mãe, dentro da própria casa. Talvez por isso um envolvimento mais emocional e menos distanciado com Clarita

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

FESTIVAL DE CINEMA DO PARANÁ


Respeitável público.
Luz, câmera, ação.

Tudo começou quarta-feira da semana passada. Soube, através de um grande amigo meu, da existência de um Festival de Cinema do Paraná. A grande mídia, curiosamente, não falou sobre o assunto. Fui informado também que esse festival estava sendo realizado no Museu Oscar Niemeyer. Ou seja, nas proximidades de meu Lar Doce Lar e ao lado do meu local de trabalho.

Sendo assim, corri em direção ao “Olho” e, logo de cara, pude rever dois adoráveis companheiros. Leandro Hammerschmidt e Igor Kalashnikov lá estavam, prontos para saborear o Festival. Após um bom tempo fora do Brasil, é sensacional rever figuras que fazem parte de nossas Vidas…

Logo em seguida, entramos numa sala onde estavam ocorrendo palestras, seminários e oficinas. Neste recinto, pude assistir, do início ao fim, um tal de “Terra em Transe”, de um tal de Glauber Rocha. Na faixa. Não paguei nada, e pude mergulhar num dos melhores filmes da história do cinema brasileiro. Surreal. Real. Absurdo. Vivo. Insano. Verdadeiro. Psicodélico.

Continuei pelas redondezas, admirando a beleza arquitetônica do local, e entrei no auditório “titular” para conferir uma mostra de curta-metragens. Filmes bons e ruins ao mesmo tempo. Destaque para o documentário “Solitário Anônimo”, de Débora Diniz. A diretora brasiliense soube conduzir com maestria a trajetória de um idoso sábio, andarilho e descontente com a vida, que resolve abandonar sua casa, morar nas ruas e deixa de se alimentar, entregando-se ao caminho da morte. Ele, porém, não consegue alcançar esse objetivo, pois acaba sendo internado num hospital e é alimentado “na marra”. Um filme que coloca em xeque a questão do livre arbítrio, se podemos ou não realizar as nossas escolhas.

Após acompanhar mais um solitário anônimo nesse mundo injusto em que vivemos, permaneci no auditório e acompanhei o filme argentino “As Mãos” (Las Manos), de Alejandro Doria. Película redonda, fotografia interessante, estética apurada. Peca, porém, no teor excessivamente religioso do enredo em questão, muito embora com ótimas interpretações do elenco em cena.

Sexta-feira chegou, e as celebridades também. Apesar de não ser um dia de número 13, José Mojica Marins lá estava. ZÉ DO CAIXÃO, em carne, osso e unhas nos brindou com sua simpática presença. O mito ainda vive, e veio à Curitiba para lançar a sua “Encarnação do Demônio”, completando uma trilogia idealizada há mais de quarenta anos. Particularmente, adorei o resultado final. Sangue, psicopatias, fortes mensagens e belas mulheres nuas foram servidos num delicioso prato. Viva Mojica!

Antecedendo o Zé do Caixão, o cinema paranaense foi destaque com a bela obra “Cortejo”, de Marcos Stankievicz e Joba Tridente. Sem conter diálogos, o filme mostra uma inovadora forma de linguagem, onde as cenas se desenrolam de forma poética. Contando com uma bela e sedutora protagonista, “Cortejo” possuem também uma inspirada trilha sonora. Tudo isso filmado, claro, em película.

Ainda na sexta-feira, chegou a vez de “Mystérios”, que ganhou o prêmio de melhor direção. Beto Carminatti e Pedro Merege, os diretores premiados, realizaram esse filme, baseado em textos de Valêncio Xavier. Inteiramente rodado em Curitiba, “Mystérios” traz Carlos Vereza na pele do impagável protagonista. Contando também com outros atores globais, esse filme transporta o espectador para uma Curitiba da década de 60, do Passeio Público, da chegada do homem em terrenos lunares. Os mistérios que envolvem as noites curitibanas e as mentes das pessoas são brilhantemente narrados por Vereza, que observa, com muita poesia, o charme e os segredos da bela Stephanie Brito, a eterna Lolita dos apaixonados de plantão…
Sábado em cartaz, e curta-metragens também. Antes de conferir os filmes do dia, houve mais reencontros memoráveis. Eduardo Nascimento Rohn e Eduardo Martins Amatuzzi (sim, xarás!) lá estavam. Após mais esse “momento máximo da consagração”, volto à sala de exibição, e deparo-me com sonolentas e interessantes obras, que se alternam com incrível maestria. Gostei de “Sete Vidas”, dos diretores Marcelo Spomberg e Zé Mucinho, de São Paulo. Muito feliz a escolha por Selton Mello para narrar o filme. Um gato (felino) é o carismático protagonista.

Domingo, então, marcou o encerramento do festival. Premiação aos vencedores e a exibição de mais alguns bons curtas, tais como “Os Dias Cinzas”, de Bruno de Oliveira e “Com as Próprias Mãos”, de Alysson Muritiba. Psicopatia, sangue e violência marcam ambos filmes, que exploram algumas mazelas humanas, tais como a sede de vingança e a mente doentia do homem/mulher “modernos”. “Satori Uso”, do diretor londrinense Rodrigo Grota, encerrou a noite como um belo exemplar do “cine-arte”, de um filme alternativo que prima pela beleza fotográfica.

Outros ótimos reencontros também marcaram esse domingo. Franco Caldas Fuchs, Emanuela Khalil, Rafael Dias e Ana Niculitcheff deram o ar de suas graças. Eu só esperava a presença de um maior número de alunos e ex-alunos de Comunicação da UFPR. Vou supor que todos estavam muito ocupados durante todos os dias do Festival. Tudo bem, espero ver vocês em outras ocasiões. E a cobertura da mídia local também deixou a desejar. Rivalidades entre governo do Estado e emissoras de televisão ficaram evidentes.

E, antes de ir embora do Niemeyer e do Festival, ainda houve tempo para um coquetel de despedida, onde o ator Selton Mello gentilmente me “colocou para dentro”, pois só “convidados” poderiam entrar no início do “comis-e-bebis”. Descolamos também o telefone da casa do ator Carlos Vereza, que gentilmente atendeu os repórteres do Jornal TiraGosto - Leandro Hammerschmidt e Jackson Sardá - e disponibilizou seu telefone residencial no Rio de Janeiro, visto que Vereza não possui e-mail nem computador, e não pretende ter um. Entendo perfeitamente ele. Rodrigo Juste Digão Duarte e Maurício Olinda Cio-ri-mau, o lendário motorista do filme “O Condutor”, também estavam presentes no Festival. É isso aí galera, vamos fortalecer cada vez mais o Cinema Paranaense!

Jackson Sardá.
13/10/2008.

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