terça-feira, 6 de setembro de 2011

“ATÉ MEUS 50 ANOS EU QUERO DANÇAR BREAK”

João Anselmo Moreira dos Santos, o “Aranha”, conta um pouco de sua história e da história do break em Curitiba

Foto: Leandro Hammerschmidt

João Anselmo Moreira dos Santos, mais conhecido como “Aranha”, foi um dos primeiros b-boys e black powers da cidade no início dos anos 80. Mais de duas décadas se passaram e ele continua fiel as suas raízes. Dos pés (que ainda calçam um par de adidas cano alto) à cabeça (com sua indefectível cabeleira black).

João conta que a sua relação com o movimento hip hop começou em 1983, quando ele, que é parnanguara, veio morar em Curitiba após brigar com a sua madrasta. Na capital, como também não se acertou na casa de sua irmã mais velha, a única opção que lhe restou foi morar nas ruas. Tinha apenas 11 anos de idade.

Perambulando sem destino por aí (nessa época sobrevivia oferecendo pequenos trabalhos de casa em casa, muitas vezes em troca de comida), João conheceu alguns moleques que já dançavam break, como Vilmar, “Carioca”, “Celião” e Eddy. João não sabia dançar, mas queria andar com aqueles garotos. Acabou sendo acolhido por eles e logo estava dançando com esse grupo de b-boys diante do recém inaugurado Shopping Itália.

Por que dançar especificamente ali? João responde: “Além do piso ser bom para dançar, ali era o centro de tudo e havia um clima gringo no ar. Era a nossa Nova York”.

Já um b-boy formado, João ganharia o apelido de Aranha depois que tatuou um aracnídeo no braço, e também porque transformou o movimento de break conhecido como “aranha” (em que o dançarino coloca as pernas sobre os ombros) em sua marca registrada.

Foto: Franco Caldas Fuchs


Estilo brasileiro
Quando o movimento hip hop estava apenas começando em Curitiba e muitos imaginavam que aquilo seria apenas uma moda passageira, João lembra que às vezes pensava: “Um dia essa minha loucura ainda vai ser a de várias pessoas”.

Estava certo. Em pleno século XXI, a cultura das ruas continua atraindo mais e mais jovens da periferia e até de classes mais abastadas. “Os filhos de papai hoje ouvem rap, escutam Racionais… Agora o que é do povo é nosso, eles pensam. Mas não é não”, diz João, indignado com uma banalização que também assolou o hip hop.

João também não poupa críticas inclusive a uma parcela de b-boys que praticam o break atualmente. “Eu vejo esse break como uma dança estranha. Antigamente não tinha tanto esse lance de se jogar no chão, de dar cambalhota… São poucos hoje os que dançam realmente em cima [em pé]. Perdeu-se uma essência”, reclama.

Mas independente de todas as mudanças, João, aos 36 anos, faz questão de continuar dançando. “Até os meus 50 eu quero dançar break!”. E do seu jeito: “Não sou xerox de gringo nenhum. Meu estilo é bem brasileiro”.

Comemorando 25 anos de carreira em 2008, tendo participado de grupos como o West Side Breakers, Itália Força Break e Twister Rock Style, e dançado em shows do Sabotagem, Marcelo D2 e Art Popular, João diz que se sente realizado como b-boy, ainda que o break não traga o retorno financeiro que ele merece. Seu maior retorno é mesmo quando as pessoas o reconhecem e elogiam a sua dança.

Franco Caldas Fuchs
(24/06/2008)

Um comentário:

  1. karine Says:
    janeiro 1st, 2009 at 11:13 pm

    quero saber aonde ele esta o aranha ou telefone dele

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