Mostrando postagens com marcador Hélio Leites. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Hélio Leites. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 19 de março de 2014

DIA DE SÃO JOSÉ

Puxando o burrico a mulher e o filho, puxa também, o medo de que os soldados assassinem seu bebezinho.
Atrás do cortejo uma corruíra com seu rabinho apagava as pegadas do cortejo.
Aprendi nas aulas do catecismo a Fuga para o Egito da Sagrada Família com essa versão ecológica, para que poupássemos os passarinhos.
Corruíra é um passarinho sagrado, ela ajudou a salvar o menino chamado Jesus, por isso na minha infãncia poupávamos as corruíras.
Não fossem as corruíras, perderíamos o carro chefe do Cristianismo.
Quando fui expor presépios e contar histórias em Carlsruher, na Alemanha, no mesmo Castelo, estava acontecendo uma exposição chamada Império Romano. Depois de 2005 anos, o Império Romano ainda persegue o menino Jesus.
Imaginei se a Sagrada Familia estivesse na Alemanha e ao ouvir o grito de guerra do Império: " OLHA O IMPÉRIO Áí MINHA GENTE", no desespero, São José, chamaria um táxi, um Volkswagem pra fugir pro Egito. Pra incrementar a história, um garçon durante o ensaio, sugeriu que eu mudasse a marca do táxi,, pra Mercedes Bens, já que o fundador da empresa estudou em Karlsruher, seria uma homenagem. Depois do ensaio ele me sugeriu que voltasse para o Fusca porque São José não teria cacife pra bancar uma Mercedes.
Não lembro direito, mas acho que fugi pro Egito, com burrinho e corruíra.
Feliz dia de São José pra todos os Josés do mundo.

Hélio Leites
19/03/2014


.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Jardim de KH

A lagarta lambe os beiços, devorando galhos inteiros de uma trepadeira em flor, enorme, feito uma lanterninha chinesa, prepara seu casulo mágico onde ela vai trocar de roupa. Quando sai do seu armário de folhas, vestida de destaque, surpreende até a si própria, pelo luxo da fantasia, pronta pra desfilar pelas sapucaís da vida, feita rainha de escola de samba.

Sabendo desse mistério, a dona do jardim permite, alegando ser a lagarta uma espécie de podadora dos excessos, os beija-flores riscam os céus do pequeno jardim, as vespas montaram num galho, uma pequena pousada, um trânsito intenso, de seres minúsculos, onde tudo floresce, cresce e apodrece sem pedir licença à Urbes. Até o tico-tico fez seu ninho e criou um chopin, e a sinfonia pidoncha do filhote, entra nas paradas de sucesso como a música mais ouvida naquele território sagrado, onde Deus tricota nossos destinos, é ali no arfar de seu tear, que aprendo a respirar, olhando as mínimas orquídeas, nem por isso menos complexas em seus desaines, luxo de cor e perfume, edificando em nós, uma esperança de vida.

A trepadeira que fornece sapatinhos de judia, judia, sim é de nossa perplexidade, ante o fenômeno, não me aborreço com Deus, é dele a obra prima, penduradinho por um fio ele nos estende a vaidade do mundo num varal que vai além de todos os jardins. O jardinzinho é recheado de suculentas, que desabam do alto do mais remoto sapato velho de salto alto vermelho, tudo é linguagem, e registra a obra do tecelão. Claro que também é um jardim de hortaliças, um pé de couve é emblemático a nos dizer, "que couve" e nos chama à reflexão, eu vou e ao saber tratar-se de couve manteiga, já passo no pão do dia, e saio do jardim, mastigando sem culpa, mas ele não sai de mim, assim são os jardins de KH, você jamais se livra deles e eles se multiplicam variados, sem receita, por dentro de todos nós.

José Hélio Silveira Leite (08/04/2013)

.